Maite Gutiérrez
A Europa está voltando a olhar para Marte, e desta vez com o objetivo de encontrar traços de vida extraterrestre. A ExoMars, futura missão interplanetária da Agência Espacial Européia (ESA), partirá rumo a Marte em novembro de 2013 para resolver essa dúvida e preparar caminho a futuras viagens tripuladas. Não que eles estejam pensando em homenzinhos verdes equipados de antenas.
Se existem formas de vida em Marte, ou se algum dia existiram, a hipótese é de que sejam ou tenham sido organismos microscópios, talvez bactérias, como as que habitavam a Terra em seu estágio primitivo, há quase quatro bilhões de anos. "Esperamos que a ExoMars obtenha dados científicos sem precedentes, já que ela conta com tecnologias nunca antes utilizadas", explicava na segunda-feira Jorge Vago, diretor científico da missão, no centro da ESA em Noordwijk, Holanda.
Quando a espaçonave aterrissar em Marte, ela se dividirá em duas partes. A primeira será uma estação de terra que se dedicará a investigações geológicas e ambientais. A segunda é a parte mais interessante do projeto: um veículo para todos os terrenos equipado com um laboratório de bordo, que percorrerá o planeta por pelo menos seis meses.
O veículo que equipará a ExoMars não se assemelha ao Spirit e ao Opportunity, dois veículos de exploração de superfície que a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) americana enviou ao planeta. Enquanto os veículos norte-americanos eram geólogos sobre rodas, o europeu terá por missão buscar sinais de vida. Para isso, carregará um conjunto multidisciplinar de instrumentos, entre os quais se destaca uma perfuratriz que permitirá atingir profundidade de até dois metros e extrair amostras de subsolo, porque as principais esperanças de sucesso quanto à missão ExoMars estão embaixo da terra.
"É muito pouco provável que exista vida em Marte agora, mas, caso seja esse o caso, o melhor lugar para buscá-la seria o subsolo, onde estaria a salvo do meio ambiente da superfície", disse Frances Westall, a cientista responsável pelo microscópio do ExoMars e especialista em exobiologia - a busca de vida extraterrestre.
O planeta vermelho é um lugar inóspito, sem atmosfera - o que impede que a água se mantenha em estado líquido na superfície - e bombardeado por radiação cósmica, além de apresentar nível muito elevado de oxidação. Ou seja, um mau lugar para o desenvolvimento de qualquer organismo. Por outro lado, sob a terra um organismo estaria protegido contra essas agressões, a temperatura seria mais cálida e existe a possibilidade de que possa ser encontrada água em estado líquido. A equipe da missão ExoMars prefere demonstrar prudência e descarta quase que inteiramente a possibilidade de encontrar um organismo vivo em Marte.
Outra questão, porém, são restos de passados habitantes. "Acreditamos que a Terra e Marte eram planetas semelhantes em seus primeiros 500 milhões de anos. Foi então que surgiram as primeiras formas de vida na Terra. Por que em Marte não ocorreria o mesmo?", perguntava Vago. As células primitivas da Terra viviam nas rochas e sedimentos, e por isso as buscas se concentrarão em ambientes desse tipo. Rochas de origem vulcânica estão excluídas. "Estamos em busca de rochas formadas em processos antigos pela ação da água", explica Westall. Na infância dos planetas, Marte não era o atual deserto vermelho. A água fluía pelos canais e leitos de antigos lagos, que talvez guardem fósseis de microorganismos.
Ainda assim, não será tarefa fácil. "O fóssil de um microorganismo pode ser facilmente confundido com um simples mineral", alerta Westall. O veículo de exploração tampouco está equipado para identificar células independentes, mas sim colônias de bactérias ou moléculas orgânicas de origem biológica, e averiguar sua proveniência. A Terra e Marte trocavam meteoritos, no passado. "Talvez formas de vida primitivas da Terra tenham viajado a Marte em um deles, ou o contrário", afirma Vago. Ou seja, talvez nós sejamos marcianos, imigrantes interplanetários que atingiram a Terra vindos em um meteorito. A missão também analisará a poeira de Marte para comprovar se é tóxica, e determinará a habitabilidade do planeta.
Os cientistas estão trabalhando para testar a tecnologia da missão, cujo orçamento é de um bilhão de euros. A Espanha contribui com um dos três mais importantes instrumentos, um espectrômetro avançado que permitirá averiguar a composição dos materiais que analisa. Cientistas espanhóis também participam do projeto Medusa, um instrumento para medir a presença de poeira na atmosfera.
O centro de controle do veículo estará em Turim, mas ainda não foi decidido o centro geral de controle de operações. O arquivo científico da missão ficará no Centro Europeu de Astronomia Espacial, em Madri. Outra questão a resolver será escolher o satélite de retransmissão. A idéia inicial é usar uma plataforma orbital da Nasa, se bem que o veículo orbital europeu Mars Express, que completou sua órbita de número cinco mil na segunda-feira, também esteja entre as apostas.
Cronograma
Lançamento: Novembro de 2013. A espaçonave será lançada de Baikonur ou da Guiana Francesa, e empreenderá uma viagem de 10 meses.
Chegada: O veículo se colocará em órbita de Marte em setembro de 2014, mas não aterrissará por pelo menos mais nove meses, porque Marte estaria em plena temporada das tempestades de poeira e seria preciso encontrar uma área livre delas para que a nave chegue à superfície. O local de aterrissagem ainda não foi decidido.
Final da missão: A ExoMars estará em operação por um mínimo de seis meses. Ao longo desse tempo, terá de procurar sinais de vida e analisar o meio ambiente e o subsolo de Marte.
Tradução: Paulo Migliacci ME
La Vanguardia
Fonte: Notícias Terra